“O recrutamento mais caro é aquele feito para repor ou substituir alguém que poderia ter ficado”
É das frases que mais lidas nos media sobre a saúde mental no local de trabalho, em relação ao recrutamento e ao turnover frequente nas empresas.
O panorama das empresas mudou radicalmente em comparação com a geração passada, que tinha como principal objetivo num emprego, um meio de subsistência.
Atualmente, não é assim que olhamos para o nosso local de trabalho, mas sim como algo a que pertencemos ou queremos pertencer, marcar a diferença, ser parte integrante, ter voz. Há uma procura pelo equilíbrio entre o local onde passamos mais horas e a nossa vida familiar, há uma nova preocupação com a qualidade de vida e com a realização profissional.
“O trabalho pode ser uma fonte de satisfação, mas é também, por vezes, uma ameaça à saúde mental.”
Os colaboradores de uma empresa são na verdade o seu maior valor, então quando nos deparamos com uma gestão que não prioriza as suas equipas, não as desenvolve e não as envolve, os colaboradores desligam aos poucos da organização. Quando o ambiente de trabalho não oferece a qualidade e o bem-estar que o colaborador procura, desenvolvem-se novos problemas organizacionais, como o aumento de stress, o conflito interpessoal, o aumento do erro e a baixa de produtividade.
Para uma empresa, um bom profissional requer investimento, e este investimento quando o colaborador sai, é perdido em dois vetores: o colaborador leva o know how aprendido para a empresa concorrente e há um novo investimento em formar uma nova pessoa. Perder um membro de uma equipa, muitas vezes abala as relações internas, a quantidade e a qualidade de produção numa empresa, dado que um novo colaborador demorará mais tempo a encaixar-se no processo, afetando assim os resultados da empresa. Com isto, entendemos que é essencial ter profissionais bem alinhados com a cultura da organização e que potenciem um clima organizacional que promove a produtividade, a confiança e a melhoria de resultados.
A saúde mental no trabalho é definida pela OMS como “um estado de bem-estar em que o indivíduo está ciente de suas próprias habilidades, pode enfrentar as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir com a sua comunidade”.
“A falta de trabalho pode gerar ansiedade mas, um emprego nem sempre é sinónimo de felicidade. O excesso de trabalho, a precariedade, um mau relacionamento com as chefias e colegas ou a falta de reconhecimento são alguns fatores que podem influenciar a saúde mental.”
Com base na definição da OMS, enumero dicas para as empresas promoverem a saúde mental grupal dos seus colaboradores:
Evitar os excessos de hierarquias: Todas as empresas precisam de estrutura e liderança, mas uma organização extremamente vertical deixa os trabalhadores infelizes. Se os gestores cobram ótimos resultados, mas não valorizam a geração de ideias e centralizam o poder de decisão, não podemos esperar alcançar as metas. Valorize as boas ideias e dê liberdade para que elas sejam colocadas em prática.
Tenha atenção ao excesso de trabalho: Todas as funções têm fases de stress, mas a constante sobrecarga física e mental de um colaborador assumindo sempre mais tarefas e projetos, faz o colaborador perder a criatividade e a motivação em manter o bom desempenho.
Esteja atento às visões vagas: É frustrante para os colaboradores que integram uma empresa ser iludidos com sonhos altos, mas sem objetivos estratégicos que os tornem viáveis. Os colaboradores apreciam saber no que estão a trabalhar.
Falta de reconhecimento: Mesmo o seu colaborador mais altruísta quer ser reconhecido e recompensado por um bom trabalho, é da natureza humana. Quando não reconhece o esforço dos seus colaboradores, não só os desmotiva como perde a eficácia em gerar resultados. Nem sempre este reconhecimento tem de ser monetário, uma palavra de apreço não tem custo.
Não deixe os seus colaboradores estagnados: Por melhor que um colaborador seja numa posição, os novos desafios e oportunidades são importantes para o seu crescimento e para o seu bem-estar. O colaborador gosta de sentir que é possível progredir numa empresa, sem um plano de carreira gera-se frustração, baixa produtividade, desinteresse e um baixo desempenho.
Permita aos seus colaboradores desenvolver a criatividade interna, fomente a sinergia entre equipas e recompense-os.
Para os próprios colaboradores que comecem a sentir também a sua saúde mental afetada, há pequenos gestos que o podem ajudar a lidar com a situação, sem abandonar o local de trabalho1:
- Procure criar uma rede de apoio no seu emprego, falando com as pessoas em quem confia, para que possam desabafar e partilhar preocupações;
- Não tenha receio de pedir ajuda e perceba que ninguém consegue ser sempre perfeito;
- Diga “não” quando já não consegue aceitar mais trabalho;
- Nos momentos de maior sobrecarga, respire fundo e faça uma pausa durante alguns minutos;
- Caminhe um pouco durante a hora de almoço;
- Evite trabalhar além do seu horário ou levar trabalho para casa;
- Faça uma lista de tarefas ordenadas por importância;
- Transforme o seu espaço físico de trabalho num local confortável possível e adequado às suas necessidades;
- Não deixe de gozar as suas férias;
- Estabeleça prazos e objetivos realistas.
A saúde mental é um dos pilares mais importantes na integridade de uma pessoa, e focando essencialmente no local de trabalho, os gestores desempenham um papel crucial na promoção da qualidade de trabalho e num ambiente saudável.
1 Adaptado de Promoção da Saúde Mental no Local de Trabalho: Orientações para a Aplicação de uma Abordagem Abrangente