Rumo à sustentabilidade: abrir caminho até à economia circular
As preocupações ambientais e a urgente necessidade de preservar os recursos naturais estão a alavancar a emergência de uma solução sustentável e inovadora: a economia circular, um paradigma transformador que desafia o modelo tradicional de produção e consumo.
Esta abordagem económica, é um conceito que visa transformar a forma como a sociedade produz e consome bens, com o objetivo de minimizar o desperdício e maximizar a eficiência dos recursos, focado na coordenação dos sistemas de produção e consumo em circuitos fechados. Ou seja, representa um modelo de produção e de consumo que permite alargar o ciclo de vida dos produtos, o que implica a redução do desperdício ou dos resíduos ao mínimo.
Este modelo tem como principais objetivos a criação de um sistema mais sustentável, a redução do impacto ambiental, a promoção da eficiência no uso de recursos e a diminuição da quantidade de recursos produzidos. Com isto, torna-se possível combater a escassez dos recursos naturais, a poluição e as alterações climáticas, que são, atualmente, os principais desafios ambientais globais.
De acordo com a Comissão Europeia (2019), ao manter o valor dos produtos, dos materiais e dos recursos durante o maior período possível, torna-se possível a sua reintrodução no ciclo, no final de vida do produto, minimizando a produção de resíduos. Quanto menos produtos forem descartados e menos materiais extrairmos, melhor o nosso ambiente reage.
Então, qual a diferença entre economia linear, economia de reciclagem e economia circular?
De um modo resumido, estas três abordagens diferem entre si de acordo com o ciclo de vida dos produtos e da gestão de recursos que é feita. A economia linear segue uma abordagem tradicional, enfatiza o descarte dos produtos após o seu fim de vida útil, o que resulta num elevado desperdício de resíduos e poluição. Segue a máxima de “extrair-produzir-utilizar-descartar”, que implica uma elevada quantidade de materiais a baixo preço e de fácil acesso, e uma grande quantidade de produção de energia. A economia de reciclagem dedica-se à recuperação de materiais de produtos descartados, para minimizar a quantidade de resíduos enviados para aterros. Embora seja uma abordagem mais “amiga” do ambiente, o produto ainda tem um ciclo de produção e descarte. A economia circular adota uma abordagem holística, em que propõe um ciclo contínuo de reutilização, reparação, reciclagem e renovação, onde o desperdício é reduzido ao mínimo. Aposta num design sustentável para os produtos terem mais durabilidade, minimiza a extração de matéria-prima e reduz a produção de resíduos.
Por que devemos transitar para uma economia circular?
Podemos destacar três principais razões para esta transição:
Fonte: innerdevelopmentgoals.org/
Em que estado se encontra o país (e o mundo) atualmente?
Os portugueses desperdiçam 1 milhão de toneladas de comida por ano, de acordo com um estudo feito pelo PERDA (Projeto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar), o que resulta num desperdício de 274 mil quilos diários, apenas em Portugal. Ao contrário do que seria expectável, dentro de casa (as famílias) é onde ocorre maior parte desse desperdício (31%), seguido da agricultura, do retalho e da indústria. Isto acontece porque maior parte das pessoas não sabe interpretar ou não se lembra de consultar os prazos de validade dos alimentos.
E porque é que este desperdício tem um impacto tão grande no ambiente? Porque ele é responsável por 8% das emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera, uma vez que o ciclo dos alimentos acaba nos aterros que, por sua vez, se decompõem e geram gás metano (estima-se que 25% do aquecimento global resulte dessas emissões de gás metano). Para referência, para 1kg de comida desperdiçada, é gerado cerca de 2,5kg de equivalente de CO2 (ou seja, mais do dobro).
Para além disso, o desperdício alimentar impacta também os recursos que foram usados para a sua produção: 30% da terra agrícola é usada para cultivar comida, que acaba por ser desperdiçada; 66 triliões de água que são usados anualmente para produzir comida que é desperdiçada (segundo a WWF), o que equivale a deixar a água do duche correr durante 84 minutos, ao desperdiçar 1kg de bananas.
De acordo com um estudo da FAO (Global food losses and food waste), 31% da comida produzida é perdida ou desperdiçada. Por exemplo, apenas 69% de uma maçã é consumida, os restantes 11% são resíduos de consumo e 20% é desperdício na cadeia de valor.
A economia circular emerge como um paradigma indispensável para enfrentar os desafios contemporâneos relacionados com a sustentabilidade e o consumo responsável. Ao substituir o modelo linear tradicional de produção e descarte por um sistema regenerativo e eficiente, a economia circular não só minimiza o impacto ambiental, como também impulsiona a inovação, a criação de empregos e a resiliência económica.
Ao adotar práticas que promovem a reutilização, reciclagem e prolongamento da vida útil dos produtos, estamos a construir um futuro mais sustentável e equitativo para as gerações futuras.
O que é o Cradle-to-Cradle?
Também conhecido como C2C, ou em português “do Berço ao Berço”, esta abordagem foi criada pelo arquiteto William McDonough e pelo engenheiro Michael Braungart, em 2002, e tornou-se um dos pensamentos ecológicos mundiais mais influentes. Este conceito surgiu de forma “provocatória” para o conceito que existia até então, o chamado “Cradle to Grave” (“do Berço ao Túmulo”), que encarava o ciclo de vida de um produto como um processo linear de extração-produção-descarte.
Este pensamento também distingue medidas eficientes de medidas efetivas. Ou seja, a eficiência visa a redução, minimização e compensação de danos (como é o caso da maioria das estratégias sustentáveis). As medidas efetivas também querem minimizar os danos, mas pretendem, essencialmente, otimizar os ganhos para atingir um efeito positivo para o planeta e para as pessoas. Já não é suficiente o esforço que as empresas fazem para minimizar a sua pegada ecológica numa estratégia de zero emissions, mas sim concentrarem-se em estabelecerem metas positivas. A premissa que o C2C defende é “ser menos bom não é o mesmo que ser bom”.
Conheça aqui algumas marcas que apostam no paradigma da economia circular.