Os riscos psicossociais no contexto de trabalho
Um ambiente psicossocial positivo contribui para a promoção de um bom desempenho e desenvolvimento pessoal, o bem-estar mental, social e físico dos trabalhadores, bem como a eficácia, evolução e progressão das organizações.
De acordo com Aristóteles, “o homem é um ser eminentemente social”, pois desde o momento que nasce, qualquer ser humano é, imediatamente, inserido numa sociedade: família, infantário, escola, equipa, etc… Sendo um ser eminentemente social, o homem sente uma absoluta necessidade de se unir e agrupar a algum ou alguns dos seus semelhantes, para atender aos fins que necessita, busca e deseja.
Ao aproximar-se da idade adulta, o ser humano começa a preparar-se para o momento de entrada no mercado de trabalho. Depois de ultrapassada a carreira escolar e/ou académica, é chegada a hora dos desafios profissionais se juntarem a um conjunto de outras necessidades materiais, sociais e pessoais.
Geralmente, ter um emprego é melhor para a Saúde Mental e Psicossociológica de cada ser humano, do que estar desempregado. No entanto, alguns fatores laborais também podem ter um efeito negativo na saúde – física, mental e social – e no bem-estar de cada trabalhador.
Podemos agrupar os Riscos Profissionais em: Físicos, Químicos, Biológicos, Ergonómicos e Psicossociais.
Psicossociologia: Ciência que estuda a vida nas suas manifestações sociais ou os aspetos da vida psíquica que resultam da influência de uns indivíduos sobre os outros.
Psicossociologia no trabalho: Tem como objeto principal de estudo as interações entre os diversos intervenientes no mundo do trabalho, nomeadamente a forma como esses atores influenciam a organização na qual estão inseridos e de que modo são influenciados por ela.
Com efeito, e ainda na senda da “eminência social”, podemos afirmar que ninguém trabalha sozinho. Internamente, poderemos ter: colegas de trabalho, num nível horizontal; enquanto numa plataforma vertical poderão coexistir superiores hierárquicos – como coordenadores, supervisores, diretores ou administradores – que, tal como um elevador, terá movimentos ascendentes e descendentes. Serão estes movimentos, associados às respetivas “paragens” que, muitas vezes, ditarão o sucesso ou insucesso de uma organização. A escuta ativa e a capacidade de dar feedback, por parte de todos os intervenientes, são algumas das peças-chave para se atingir a pedra de toque: criação e desenvolvimento de sinergias! Externamente, o relacionamento profissional poderá ocorrer com clientes, fornecedores, parceiros de negócios – atuais ou potenciais.
Qualquer um destes tipos de Relacionamento Interpessoal é, ou poderá ser, potenciador de riscos psicossociais.
Os riscos psicossociais englobam os fatores associados com o trabalho, o ambiente fora do trabalho e as caraterísticas individuais do trabalhador. Entre os riscos psicossociais com maior impacto na Saúde Mental e Social dos trabalhadores podemos generalizar os seguintes:
Relacionados com a estrutura organizacional:
- Indefinição ou deficiente clarificação das funções e perfil profissional do colaborador associadas a exigências contraditórias;
- Falta ou deficiente comunicação interna – horizontal e/ou vertical;
- Conflitos frequentes e latentes entre trabalhadores;
- Falta de oportunidades de promoção e desenvolvimento profissional;
- Inexistência de um Plano de Gestão de Carreiras;
- Incerteza acerca do futuro do posto de trabalho;
- Falta de apoio da Gestão de Topo, chefias e/ou colegas trabalho;
- Imagem social negativa da organização.
Relacionados com o seu papel na organização:
- As tarefas e atividades que lhe são atribuídas não estão de acordo com os seus conhecimentos e competências;
- Falta de motivação para o desempenho de tarefas nas quais não se revê (ausência de sintonia, proatividade e criação de sinergias);
- A carga de trabalho está desajustada à capacidade do colaborador – muito superior ou inferior;
- Falta de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador e falta de controlo sobre a forma como executa o trabalho;
- Tarefas demasiado repetitivas e/ou monótonas;
- Não compreensão da importância do seu papel no seio da organização.
Relacionados com a organização do trabalho:
- Excesso de dependência na organização do seu trabalho;
- Horários de trabalho por turnos;
- Existência de poucas pausas para descanso e de curta duração;
- Horários de trabalho contínuos e excessivos (superiores a 8 horas diárias).
Outros fatores potenciadores:
- Assédio, violência e intimidação no trabalho;
- Stresse ocupacional;
- Distância excessiva, ou demasiado tempo despendido no percurso casa-trabalho ou trabalho-casa;
- Dificuldade em conciliar os compromissos laborais e familiares.
Os riscos psicossociais, relacionados com o trabalho, são definidos como “todos os aspetos relativos ao desempenho do trabalho, assim como à organização e gestão e aos seus contextos sociais e ambientais, que têm o potencial de causar danos de tipo físico, social ou psicológico” (EU-OSHA, 2007).
Consequências dos riscos psicossociais
Os riscos psicossociais têm um impacto significativo na saúde dos trabalhadores, nas organizações e nas economias nacionais. Os trabalhadores afetados podem acabar por desenvolver diversos problemas, em particular:
- Psicológicos – nervosismo, ansiedade, irritabilidade, oscilação emocional, perdas de memória, angústia, insónias, cansaço extremo, depressão, esgotamento, suicídio.
- Sociais – isolamento, agressividade, consumo de substâncias psicoativas, faltas ao trabalho, erros e falhas na execução de tarefas.
- Fisiológicos – reações cardiovasculares, incómodo a nível músculo-esquelético ou digestivo, insónias, fadiga, dificuldades respiratórias, dores de cabeça e dores musculares.
Também a organização poderá ser confrontada com problemas de diversa ordem, nomeadamente absentismo (ausências ao trabalho) e presentismo (fenómeno pelo qual o trabalhador, por falta de saúde, do corpo ou da mente, está presente no local de trabalho sem que, dessa presença, decorra uma produtividade efetiva).
Paralelamente, nos casos em que não há uma prevenção eficaz e adequada dos riscos psicossociais, existirá um aumento quer dos custos diretos, quer dos custos indiretos para a organização, tais como: rotatividade dos colaboradores, baixa produtividade, incumprimento de prazos para com os clientes, perda de clientes, relacionamento interpessoal negativo e mau ambiente de trabalho, aumento das situações de conflito ou deterioração da imagem institucional da organização.
A prevenção dos riscos psicossociais no âmbito laboral “obriga” a um envolvimento proativo e dinâmico quer da parte da entidade empregadora, através dos seus responsáveis, quer da parte dos seus colaboradores, independentemente das suas funções ou responsabilidades.
No âmbito dos Serviços de Segurança e Saúde no Trabalho e após um diagnóstico das condições de trabalho deverá proceder-se a uma Avaliação de Riscos Psicossociais, que contemple uma abordagem individualizada a cada um dos trabalhadores. Tal avaliação deverá permitir ter um conhecimento psicossocial individual e global da organização, identificar as menos-valias e os aspetos a melhorar, bem como a construção de um Plano de Ação e Controlo das medidas a implementar: individuais, grupais e organizacionais.