ChatGPT & Friends: super estagiários que só precisam de orientação

 

“Tudo é giro. Nem tudo é útil.” É com esta frase que costumo abrir muitas das minhas formações e webinars sobre inteligência artificial generativa. E normalmente arranca uns sorrisos, mas também algum franzir de sobrancelhas.

“O que será que ele quer dizer com isto?” Simples. Estamos fascinados com o que estas ferramentas conseguem fazer, mas ainda estamos longe de saber o que fazer com elas.

Imaginemos um cardápio infindável e um empregado de mesa a olhar para nós com ar de quem tem de se despachar. É mais ou menos isto que sentimos todos com as dezenas de apps de IA com as quais estamos a ser bombardeados diariamente, num misto de excitação pelas possibilidades e pavor por não termos a certeza sobre qual o caminho a escolher.

E aqui entra a parte que muitos ainda subestimam: a IA não serve para quem procura respostas rápidas, serve para quem sabe fazer perguntas mais assertivas. Por isso digo tantas vezes que o ChatGPT (e os seus friends) são como super estagiários. Geniais, rápidos, disponíveis 24/7 mas sem noção de contexto, sem visão de negócio e sem filtro de prioridades. Ou seja: só funcionam bem quando têm um orientador – ou um co-creator – que saiba o que quer, criando prompts orientadores que resultem em respostas adequadas.

A inteligência artificial generativa é, hoje, um dos motores mais promissores da produtividade e da criatividade em contexto empresarial. Mas não é a ferramenta que faz a diferença, é o uso integrado que lhe podemos dar.

O verdadeiro salto de produtividade criativa dá-se quando começamos a olhar para a IA como um ecossistema articulado. Um mix & match estratégico onde cada peça encaixa num fluxo de trabalho inteligente, eficaz e personalizado.

Na prática, o que isto significa? Que já não chega usar o ChatGPT como uma variação do Google com respostas mais giras. É quando o combino com o Notion AI para estruturar ideias e estratégias, ou uso o Gemini para explorar ângulos alternativos de comunicação, que as possibilidades começam a multiplicar. E quem diz estas apps poderia dizer o Perplexity, que entra em cena quando quero fazer uma pesquisa assertiva, com fontes, contexto e linguagem acessível – algo entre um Google vitaminado e um assistente de investigação. Ou mesmo o NotebookLM, com a possibilidade de entregar à IA os meus próprios documentos e fontes, extraindo insights valiosos, guias de estudo ou podcasts, sabendo que ela não irá alucinar.

Do lado da foto e vídeo, a revolução é ainda mais evidente. MidJourney, Pika.art, Sora ou Runway ML têm sido aliados constantes no processo criativo, especialmente quando se trata de explorar storytelling visual.

E, não poderia deixar de mencionar o áudio. Se o objetivo é som e emoção, o ElevenLabs permite dar voz – literalmente – a ideias que antes ficavam apenas escritas. E, mais recentemente, com o Suno, o áudio ganhou um novo lugar na estratégia de marca: não é só sobre música criada por IA, é sobre identidade sonora como parte da experiência de conteúdo.

Poderia escrever mais alguns parágrafos sobre dezenas de apps que parecem fazer magia, mas estaria a fugir ao ponto onde creio que muitos projetos e empresas ainda não chegaram: a integração.

Há quem use IA para escrever um post. Ou para gerar uma imagem. Ou até para rever um contrato. Tudo isso é mais do que válido – aliás, é altamente recomendável. Mas quando usamos estas ferramentas de forma isolada, estamos a desperdiçar o verdadeiro potencial que a IA generativa tem para oferecer.

A pergunta estratégica que importa fazer é esta: “Como posso ligar estes pontos de forma a transformar os meus fluxos de trabalho, a minha comunicação e a minha tomada de decisão?” Porque quando isso acontece, a IA deixa de ser apenas produtiva. Passa a ser transformadora.

Claro que este processo exige mais do que curiosidade técnica. Exige liderança, cultura de aprendizagem e uma vontade clara de sair da zona de conforto. A maior resistência que encontro nas formações não é a falta de competências tecnológicas – é a carência de espírito estratégico.

Ainda há quem ache que “isto não é para mim”, ou que “basta um clique para tudo acontecer”. Defendo veementemente que, não só ambas afirmações estão erradas, como estão nos antípodas uma da outra. A IA já não é moda. É mudança de paradigma. E não vai passar. Vai acelerar.

A boa notícia? Já não é preciso ser programador, ter um curso de Ciência Computacional nem ter um Departamento de Inovação com dez pessoas. Basta ter espírito explorador e a coragem de se começar por algum lado.

A IA já não é sobre o que ela pode fazer. É sobre o que tu vais fazer com ela. Por isso, deixo-te com a mesma provocação que costumo lançar no final de cada sessão:
O que é que ainda estás a fazer manualmente… que já podias estar a fazer melhor com IA? Porque a esta tecnologia não existe para te substituir. Existe para te mostrar todo o fluxo de trabalho que tu já devias ter substituído.

 

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